segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Em tempos de Kindle e iPad ainda nos falta o livro.


Como todo bom historiador, os livros são minha companhia diária. Estão comigo em casa, na faculdade, na fila do banco, no ônibus, ou seja, pra mim mais do que o Bradesco o livro é presença de verdade. Mas como um bom historiador tem de estar antenado com o seu mundo contemporâneo não pude escapar de imaginar o que será do meu ofício quando o Kindle e o iPad se transformarem em itens obrigatórios a prática da leitura. Mas será que isso acontecerá?




O historiador Roger Chartier aponta que a importância das inovações tecnológicas ligadas à prática da leitura não está no como ela se apresenta, na sua aparência, mas sim, no poder de modificação das práticas de leitura. Essa afirmação de Chartier me levou a pensar o que representam Kindle’s e iPad’s. E cheguei a provisória conclusão de que  de nada adianta essas maquininhas mágicas à uma população que ainda está se habituada com o livro.  


Hoje, enquanto o iPad surge como uma revolução, podemos afirmar que no Brasil a revolução não será lida, pois não temos bibliotecas em todos os municípios, ou seja, de um lado um meio que visa a substituir o livro e de outro o meio onde o livro ainda não chegou. São nesses lugares do Brasil que a “lógica da evolução tecnológica” se inverte e se você perguntar se a pessoa viu um livro ela irá responder: sim, pela televisão!  


E quanto a afirmação de Chartier: o Kindle e o iPad alteram alguma coisa na prática de leitura? De forma substancial não. Altera, talvez, o estilo, dando ao leitor um ar moderno e arrojado seja com o visual clean do Kindle ou com as curvas brilhantes do iPad. Porém, os livros continuaram da mesma forma, páginas, páginas e páginas... o iPad sequer comporta a multitarefa, prática que a web nos habituou, janelas e mais janelas para o mundo.

4 comentários:

  1. Excelente comentário. Tendo a concordar com vc, embora a história da difusão das mídias nas últimas décadas demonstre que hábitos milenares mudam rapidamente, nem sempre para melhor.
    Antonio Celso

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  2. Salve professor Antonio Celso, primeiramente gostaria de dizer que é um honra receber um comentário seu. Sem dúvida, muitos hábitos acabam por serem modificados, e como e vc ressaltou, nem sempre para melhor, porém, faço esforço para ir contra-corrente, ou seja, acredito que muitas vezes esse discurso de mudança de paradigmas, é novamente de afirmação dos valores já estabelecidos, e nada ocorre de novo. A nossa luta, porque sei que vc também acredita, é a de construir nesse espaço algo novo, todavia, sem esquecer de nossos velhos problemas.

    Forte abraço.

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  3. Wellington, vc citou nesse posto um problema muito sério e muito antigo que persiste no Brasil: a questão das bibliotecas. É verdade que muitos municípios brasileiros não possuem biblioteca pública, mas muitos municípios que as possuem pouco se importam com elas, não prezando a manutenção e a aquisição de novas obras, não se importando em colocar pessoas especializadas nesses cargos (muitas vezes, viram cabide de empregos), ou seja, a biblioteca acaba por existir apenas fisicamente, sua utilidade pública se desfaz nas mazelas do poder público.

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  4. Sem dúvida Vanessa, a utilização do bem público é algo que ainda estamos muito longe de aprender. E isso se revela em todos os aspectos. Seja na utilização de vias públicas, nas praças, que mais servem de quadros estáticos sem a participação da população, e na própria falta de seriedade de alguns fncionários públicos. Precisamos de muito aprendizado para avançarmos e quem sabe um dia termos cidades que sejam verdadeiros espaços educativos, não no sentido tradicional, mas no de convivência e de reconhecimento de uma comunidade.

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