A maioria dos estudiosos sobre a TV afirma que as imagens emitidas pela Rede Globo se constituem em um emaranhado de imagens por meio das quais o Brasil se identifica e se reconhece, o que fica explícito no slogan Globo: a gente se vê por aqui. Ou seja, a TV se transformou em um espelho do povo brasileiro, onde nos vemos todos os dias.
Essa situação tem enormes conseqüências. Em primeiro lugar, qual a imagem do país que vai ao ar? Sabemos claramente que não é a verdadeira, mas sim, a de um país higienizado, pacificado, no qual cada cidadão está no seu devido lugar. Segundo, essa situação nos enclausurou, de tal modo, que acreditamos que tudo que não existe aqui, é porque não existe em canto algum e é completamente absurdo (dois exemplos para ilustrar, o unicameralismo, ou seja, o fim do Senado, e o controle social do meios de comunicação, existente na maioria dos países desenvolvidos e democráticos).
Os jogos olímpicos de Vancouver transmitidos exclusivamente pela Rede Record se constituem em um pleno exercício de conhecimento da alteridade. Primeiro, mostrando ao povo brasileiro que existem dois jogos olímpicos (um de inverno e de verão) que não tem hierarquia entre si, mas o interesse de cada país. Para o Brasil, obviamente, os jogos de verão são mais importantes, mas o que não é verdade para o resto do mundo, como era vendido pela Globo.
Os jogos de inverno são um belo mapa dos donos do mundo, ou pelo menos de uma “ordem” que querem que nós acreditemos. Mas o fato de nunca os jogos de verão terem ocorrido em um país do Sul também é outro indicador. Que essa olimpíada sirva para demonstrar o quanto perdemos em conhecer a diversidade de nosso país, do mundo, e da complexidade das relações sociais, quando somos reféns de uma única mídia, de só uma emissora que domina hegemonicamente há 40 anos, e que completará 45 nesse ano. Talvez um leitor mais conectado a modernidade, bradará em frente a tela do seu computador, mas hoje temos a internet!!! Com certeza, caro leitor, temos a internet, eu, você, mas não 2/3 da população brasileira.
Fantástico post!!
ResponderExcluirTava precisando alguém soltar umas palavras sobre a situação atual da tv brasileira, ainda mais com esses Jogos de Inverno.
O Canadá tem seu brilho muitas vezes ofuscado por seu vizinho megalomaníaco, mas com toda certeza este país se sobressai quando falamos em tecnologia e análise de meios de comunicação. Não foi à toa que P. Lèvy buscou desenvolver um de seus estudos sobre as novíssimas redes sociais alí.
Ps: muito massa "Os jogos de inverno são um belo mapa dos donos do mundo, ou pelo menos de uma “ordem” que querem que nós acreditemos."
abraços
Olá, Wellington!
ResponderExcluirConcordo com a maior parte do que vc escreveu nesse post, mas não devemos nos esquecer de que a Record tem buscado bater a Globo copiando ou imitando muito do que a última faz, tanto em matéria de telejornalismo quanto em telenovelas.
Abraços
Olá Denis,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, esse ano é especial pois a TV brasileira completa 60 anos e então muita coisa boa sobre o meio vai sair, lógico que não na TV, mas como sou uma pessoa otimista pode até ser que tenhamos alguma grata surpresa nas telinhas brasileiras. Por isso, pode ficar tranquilo que muita coisa sobre essa "máquina de fazer doido" vai aparecer por aqui.
Quanto a tecnologia estou fazendo algumas leituras muito interesantes, estou terminando um livro sobre o YouTube de um professor do MIT, logo postarei algo sobre, o Pierre Lèvy também faz parte desse cronograma, mas a leitura ainda está bem inicial.
Abraço e bons jogos pra você!
Oi Vanessa,
você levantou uma questão importante, o de quão igual é a nossa TV. E isso seria tema para um outro post, pois é impressionante como as emissoras insistem em ser cópias umas das outras, tudo, obviamente, pela audiência. Por isso mesmo, os jogos de inverno ganharam um destaque de minha parte, pois é algo que não estamos habituados a ver nas telhinhas globais. Outro destaque é o "é tudo improviso" da Band, trazendo para a TV aberta um modelo de humor que já estava fazendo sucesso há tempos na web.