terça-feira, 22 de outubro de 2013

A biografia da concórdia

Há duas semanas iniciou-se nos meios de comunicação uma discussão sobre as biografias. A reação foi inflada pelo grupo “Procure Saber”. Grupo de discussão sobre direitos autorais que reúne nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan.

Como historiador a minha posição é de que os pesquisadores possam escrever e publicar seus trabalhos, autorizados ou não. Mas esse não é mais um texto para discutir os prós e contras da questão. O que mais me chamou atenção nessa discussão foi o modo como o tema ganhou destaque em toda a imprensa. 

A revista Veja, representando o espectro conservador, publicou uma bela capa. As empresas das Organizações Globo também se engajaram no tema. Na revista Carta Capital também não faltam artigos discutindo o tema. O resumo da ópera é o seguinte: dos grupos midiáticos mais reacionários aos mais progressistas há uma convergência de opiniões. E por que isso ocorreu?


O tema das biografias é de pleno interesse dos jornalistas. São eles que mais escrevem e publicam no gênero. Como exemplo, podemos citar a lista dos finalistas do Prêmio Jabuti 2013, na categoria biografias, dos dez candidatos, cinco são jornalistas. Além de um filão mercadológico, que pode não deixar ninguém rico, mas tampouco é rejeitado por aqueles que vivem de escrever, há a velha questão da liberdade de expressão, que é sempre lembrada pelos grandes meios de comunicação, mas na prática configura-se apenas como liberdade de imprensa.

Todas essas discussões das últimas semanas são um belo exemplo de como um tema pode se transformar em pauta nacional desde que seja de interesse dos jornalistas. No jornal o Globo, criou-se uma seção especial, a Batalha das Biografias. Enquanto isso, temas como a educação, passam ao largo das preocupações editoriais, basta acessar os jornais e revistas que dedicam espaço ao tema, notem como os temas são atualizados com vagar. Infelizmente, a educação não é notícia! 

Para encerrar, gostaria apenas de lembrar que Roberto Marinho, fundador das Organizações Globo, possui apenas uma biografia, e por sinal autorizadíssima, escrita pelo jornalista Pedro Bial. Como diz a sabedoria popular, "em casa de ferreiro, espeto é de pau". 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crônicas do Sofá - O controle remoto e o eterno retorno

Mais um domingo e o mesmo controle remoto na minha mão.
Na telinha, um apresentador, uma plateia, aplausos e risos.
Mudo de canal; aplausos, risos, uma plateia e um apresentador.
Insisto. Um apresentador, uma plateia, só aplausos sem risos.
Tento mais uma vez: um apresentador, risos e uma novidade que não me empolga – o futebol.
Mudo de novo; um apresentador, uma plateia, aplausos e risos.
Como em um círculo, o ponto de chegada é o mesmo da partida, o eterno retorno.
Repouso o controle remoto sobre meu peito; o apresentador fala, a plateia aplaude e eu rio.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O MPL, a mídia e as manifestações*

* Texto publicado originalmente no facebook no dia 22 de junho de 2013.

Os acontecimentos políticos das últimas semanas estão agitando o Brasil. O Movimento Passe Livre que iniciou uma série de protestos (como faz há anos) contra o aumento das tarifas de ônibus ganhou repercussão midiática após sofrer forte repressão do aparato policial. No início das manifestações grande parte da imprensa classificou os manifestantes como baderneiros, arruaceiros, vândalos - vide editorial do jornal O Estado de S. Paulo incentivando a truculência do Estado - e todos os outros adjetivos com que sempre se tratou os movimentos sociais (para os que não lembram é só buscar no Youtube qualquer reportagem sobre manifestações do MST, de professores, estudantes e outros tipos de greve). 

Conforme o movimento pela redução da tarifa ganhou força a mídia passou a tratar os manifestantes de forma mais afável. Condenando apenas os excessos! O que levou a essa mudança de comportamento?

A capa da Revista Veja da semana passada nos dá algumas dicas. Na capa os dizeres “contra o aumento” e no subtítulo uma pergunta capciosa "Depois dos preços das passagens, a vez da corrupção e da criminalidade?". Claramente a revista passou a conclamar os seus leitores para engrossar as manifestações incorporando as pautas conservadoras que são semanalmente publicadas na revista. Enquanto isso as emissoras de TV propagavam o bordão “não são só os 20 centavos”.



Com a ampla cobertura da Rede Globo o “povo” (categoria sociológica controversa) foi para as ruas e para a frente das câmeras. As manifestações tornaram-se quase Flash Mobs, mas com um roteiro fixo relembrado a todo instante pela TV. Todos de branco, caras pintadas de verde-amarelo, hino nacional, cartazes contra a corrupção e a palavra de ordem: “sem partido!”

A partir de então as imagens televisivas tornaram-se cada vez mais espetaculares. Manifestantes no teto do Congresso, na Ponte Estaiada em São Paulo (obra viária milionária que serve apenas de cenário para os programas da Rede Globo), av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, completamente tomada.

Na quinta-feira, 20 de junho, a cobertura midiática atingiu seu ápice. A edição do Jornal Nacional teve três horas de duração, exibindo em tempo real as manifestações de todas as capitais.

Ao longo de toda a cobertura a maioria das imagens eram panorâmicas, apenas mostrando uma imensa massa. E os comentários sempre genéricos dos repórteres, os manifestantes pedem mais saúde, mais educação e o fim da corrupção.

Nessa mesma noite, manifestantes ligados a partidos políticos de esquerda (os únicos que têm militância de verdade, como nome, rg e cpf) foram agredidos física e moralmente pelos “novos cara-pintadas” que urravam o mantra: “sem partido, sem partido”

O que mais me assusta em meio a todas essas manifestações é a má-fé de alguns e a ingenuidade de outros. Má-fé dos setores conservadores organizados que cooptaram as manifestações do MPL para levantar bandeiras retrógradas. E ingenuidade de alguns que acreditam que estão manifestando sua indignação, mas que em verdade estão sendo utilizados como “figurantes” da nova novela da Globo.

Sou completamente a favor de protestos acreditando até que muitas vezes eles precisam ser violentos, mas o protesto tem de ter foco. Demandas concretas. Escrever no cartaz que é contra a corrupção não diz nada. Corrupção de quem? Do prefeito de sua cidade, da empreiteira que financiou a campanha ou do funcionário que leva remédio do posto de saúde para casa?

O povo deve ir às ruas sim! Ocupar os espaços públicos! Não para ser figurante televisivo. Mas para formar comissões, pressionar diariamente os gestores públicos. Formar comitês populares. Para essa luta eu estou acordado há tempos! 


Manifestantes mascarados que empunham cartazes exigindo o “fim da bolsa esmola”, “redução da maioridade penal”, "chega de explorar a classe média" e que cantam o hino nacional de joelhos em frente a Fiesp NÃO ME REPRESENTAM!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Futebol e Televisão

Ontem, assistindo ao Mais Querido na Padaria do Alex, point do futebol ao vivo em Assis, presenciei um comentário interessante, um senhor, de aproximadamente 65 anos, exclamou: “Que coisa é o futebol hoje, a gente pode ver o jogo que quiser, na minha época tínhamos de esperar até quarta-feira para vermos os gols!”.

Essa fala evidencia ao menos três aspectos do desenvolvimento do futebol e de sua relação com a televisão: sua evolução como um negócio lucrativo; o espaço que o esporte passou a ocupar nas telinhas; e por fim as modificações tecnológicas na televisão.

Os esportes veiculados pela televisão alcançaram um status tão elevado, que em termos de estudos acadêmicos merecem especialistas próprios, ocupados exclusivamente com a interface esporte e mídia. Isso é fruto da própria evolução do esporte de alto nível, que se tem toda uma lógica de espetáculo. Um texto lapidar a esse respeito é o de Pierre Bourdieu sobre os Jogos Olímpicos.

A TV Tupi foi responsável pela primeira partida de futebol veiculada pela televisão brasileira. Os telespectadores da capital paulista puderam acompanhar, diretamente da cidade de Santos, a disputa entre o alvinegro praiano e o Palmeiras. O jogo, válido pelo campeonato paulista, acabou 3 a 1 para o Santos.

Outro dado interessante na relação futebol e televisão foi a transmissão da Copa do Mundo na Argentina, em 1978, pela TV Cultura de São Paulo. Isso mesmo, o torneio de futebol mais importante do mundo já teve seus direitos de transmissão exclusivos de uma emissora pública.

O SBT, a emissora do Silvio Santos, sentiu o poder do futebol, quando conquistou sua maior audiência na história com a emissão do jogo entre Grêmio e Corinthians final da Copa do Brasil em 1995.


Atualmente, como bem afirmou o senhor na padaria, é possível assistirmos aos jogos que mais nos apetecem. As câmeras de alta definição estão espalhadas pelos principais gramados do país, “cansamos” de ver os gols nos diversos programas de esporte ao longo da semana. Porém, ainda estamos longe do cenário ideal e com a chegada da Copa do Mundo seria o momento de darmos um salto de qualidade.

Dada a precariedade de nossos estádios ainda presenciamos uma presença vergonhosa de público, nas novas arenas, onde há condições mais confortáveis de acompanhar os jogos os preços dos ingressos são abusivos. E seja no estádio de arquibancada de concreto, seja no estádio de arquibancada de plástico, ainda presenciamos cenas de violência, como as vistas tanto no antigo estádio do Morumbi, na partida entre São Paulo e Corinthians, quanto no moderno Estádio Nacional, na partida de alguns meses atrás entre Vasco e Corinthians.


Esperamos que o futebol continue sendo transmitido aos quatro cantos do Brasil, mas que deixe de ser exclusivo de algumas poucas emissoras. E que isso não impeça que nosso torcedor frequente os estádios. Que deveriam ser confortáveis e ter um preço justo. Afinal, o futebol não é um espetáculo tão raro assim – ocorre duas vezes por semana ao longo dos 12 meses do ano.

domingo, 13 de outubro de 2013

Semana Nacional Pela Democratização dos Meios de Comunicação

Hoje, inicia-se a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação. Iniciativa do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) e de movimentos sociais favoráveis a um novo marco regulatório para a comunicação eletrônica.

O aniversário de 25 anos da Constituição Federal foi celebrado pelos grandes telejornais que trataram de ressaltar os avanços conquistados com a nova Carta Magna. Na matéria abaixo, veiculada no dia 04/10/2013 pelo Jornal Nacional, até se falou que existem muitos pontos que não possuem regulamentação. Porém, não se disse que entre esses pontos está o da Comunicação Social.



Mesmo com todas as alterações técnicas e tecnológicas das últimas décadas as emissoras de Rádio e Televisão são reguladas por uma legislação da década de 1960. O Código Brasileiro de Telecomunicações. E o pior, impera nas redes um monopólio familiar. Por esses e outros motivos, diversos setores sociais lutam pela democratização dos meios de comunicação.


O portal do FNDC é um espaço rico em informações e que colabora para que compreendamos as emissoras de rádio e televisão para além do que se ouve e do que se vê.  

sábado, 12 de outubro de 2013

Uma nota de inovação na tela da Rede Globo: a veiculação do Som Brasil “Dia das Crianças”

A televisão é algo tão presente em nosso cotidiano que muitas vezes temos dificuldade de notarmos alterações/inovações. Meu comentário versa sobre o programa Som Brasil exibido hoje em homenagem ao dia das crianças.

Em um sábado atípico, com um feriado de apelo comercial, a Rede Globo apostou no “novo” para a faixa da manhã. Aproveitando o amistoso da seleção brasileira de futebol, em horário igualmente atípico por conta do jogo ser na Coréia do Sul, a emissora emendou com o programa Som Brasil especial dia das crianças. Porém, quem deve ter gostado foram as “velhas crianças”, digo: a audiência do futebol que pôde curtir após a vitória da equipe de Luíz Felipe Scolari um bom programa de música.

O Som Brasil já tem uma longa trajetória na telinha, porém em sua fase atual está situado em um horário amargo, no meio da madrugada. Sempre que pude assistir tive gratas surpresas. Na manhã desse sábado pode-se assistir as apresentações de Criolina, Mombojó, Cidade Negra e Guilherme Arantes.



O que me chamou atenção foi o fato da maior parte das músicas que foi interpretada não serem músicas dessa geração de crianças - talvez exceção às cantigas mais clássicas que quase toda criança conhece -, demonstrando a busca por cativar um público mais velho (do que as crianças) outros dois elementos reforçam essa linha a escolha de Guilherme Arantes, cantor de muito sucesso nos anos 1980 e o encerramento com um trecho do programa A turma do Balão Mágico no episódio “Amigos do Peito”, exibido originalmente em 1984.

Gostei bastante do programa e de ver uma pequena ousadia na Vênus Platinada que tem a característica de apostar sempre naquilo que já está muito certo. Porém, a emissora poderia ter utilizado o mesmo recurso de interatividade que há no The Voice Brasil – visto também nas transmissões do Rock in Rio – para captar a reação do público. Em um programa recheado de lembranças de infância, seria interessante acompanhar os depoimentos da audiência.


Retomando as atividades

Boa noite, meus caros! Após 3 anos do encerramento das atividades desse blog, decidi voltar a escrever. Há tempos queria voltar, mas nunca encontrava um tempinho. Agora, com o encerramento das minhas atividades na Universidade Federal de Uberlândia e minha mudança definitiva para Assis tentarei conciliar as disciplinas da pós-graduação em História com algumas análises e comentários sobre a mídia para esse espaço virtual.

Peço aos leitores desse blog (se é que eles existem) que participem, comentando, sugerindo temas para postagens, enfim, esse é um espaço de troca de ideias. Saudações!