terça-feira, 15 de outubro de 2013

O MPL, a mídia e as manifestações*

* Texto publicado originalmente no facebook no dia 22 de junho de 2013.

Os acontecimentos políticos das últimas semanas estão agitando o Brasil. O Movimento Passe Livre que iniciou uma série de protestos (como faz há anos) contra o aumento das tarifas de ônibus ganhou repercussão midiática após sofrer forte repressão do aparato policial. No início das manifestações grande parte da imprensa classificou os manifestantes como baderneiros, arruaceiros, vândalos - vide editorial do jornal O Estado de S. Paulo incentivando a truculência do Estado - e todos os outros adjetivos com que sempre se tratou os movimentos sociais (para os que não lembram é só buscar no Youtube qualquer reportagem sobre manifestações do MST, de professores, estudantes e outros tipos de greve). 

Conforme o movimento pela redução da tarifa ganhou força a mídia passou a tratar os manifestantes de forma mais afável. Condenando apenas os excessos! O que levou a essa mudança de comportamento?

A capa da Revista Veja da semana passada nos dá algumas dicas. Na capa os dizeres “contra o aumento” e no subtítulo uma pergunta capciosa "Depois dos preços das passagens, a vez da corrupção e da criminalidade?". Claramente a revista passou a conclamar os seus leitores para engrossar as manifestações incorporando as pautas conservadoras que são semanalmente publicadas na revista. Enquanto isso as emissoras de TV propagavam o bordão “não são só os 20 centavos”.



Com a ampla cobertura da Rede Globo o “povo” (categoria sociológica controversa) foi para as ruas e para a frente das câmeras. As manifestações tornaram-se quase Flash Mobs, mas com um roteiro fixo relembrado a todo instante pela TV. Todos de branco, caras pintadas de verde-amarelo, hino nacional, cartazes contra a corrupção e a palavra de ordem: “sem partido!”

A partir de então as imagens televisivas tornaram-se cada vez mais espetaculares. Manifestantes no teto do Congresso, na Ponte Estaiada em São Paulo (obra viária milionária que serve apenas de cenário para os programas da Rede Globo), av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, completamente tomada.

Na quinta-feira, 20 de junho, a cobertura midiática atingiu seu ápice. A edição do Jornal Nacional teve três horas de duração, exibindo em tempo real as manifestações de todas as capitais.

Ao longo de toda a cobertura a maioria das imagens eram panorâmicas, apenas mostrando uma imensa massa. E os comentários sempre genéricos dos repórteres, os manifestantes pedem mais saúde, mais educação e o fim da corrupção.

Nessa mesma noite, manifestantes ligados a partidos políticos de esquerda (os únicos que têm militância de verdade, como nome, rg e cpf) foram agredidos física e moralmente pelos “novos cara-pintadas” que urravam o mantra: “sem partido, sem partido”

O que mais me assusta em meio a todas essas manifestações é a má-fé de alguns e a ingenuidade de outros. Má-fé dos setores conservadores organizados que cooptaram as manifestações do MPL para levantar bandeiras retrógradas. E ingenuidade de alguns que acreditam que estão manifestando sua indignação, mas que em verdade estão sendo utilizados como “figurantes” da nova novela da Globo.

Sou completamente a favor de protestos acreditando até que muitas vezes eles precisam ser violentos, mas o protesto tem de ter foco. Demandas concretas. Escrever no cartaz que é contra a corrupção não diz nada. Corrupção de quem? Do prefeito de sua cidade, da empreiteira que financiou a campanha ou do funcionário que leva remédio do posto de saúde para casa?

O povo deve ir às ruas sim! Ocupar os espaços públicos! Não para ser figurante televisivo. Mas para formar comissões, pressionar diariamente os gestores públicos. Formar comitês populares. Para essa luta eu estou acordado há tempos! 


Manifestantes mascarados que empunham cartazes exigindo o “fim da bolsa esmola”, “redução da maioridade penal”, "chega de explorar a classe média" e que cantam o hino nacional de joelhos em frente a Fiesp NÃO ME REPRESENTAM!

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