* Texto publicado originalmente no facebook no dia 22 de junho de 2013.
Os acontecimentos políticos das últimas semanas estão agitando o
Brasil. O Movimento Passe Livre que iniciou uma série de protestos (como faz há
anos) contra o aumento das tarifas de ônibus ganhou repercussão midiática após
sofrer forte repressão do aparato policial. No início das manifestações grande
parte da imprensa classificou os manifestantes como baderneiros, arruaceiros,
vândalos - vide editorial do jornal O
Estado de S. Paulo incentivando
a truculência do Estado - e todos os outros adjetivos com que sempre se tratou
os movimentos sociais (para os que não lembram é só buscar no Youtube qualquer
reportagem sobre manifestações do MST, de professores, estudantes e outros
tipos de greve).
Conforme o movimento pela redução da tarifa ganhou força a mídia
passou a tratar os manifestantes de forma mais afável. Condenando apenas os
excessos! O que levou a essa mudança de comportamento?
A capa da Revista Veja da semana passada nos dá algumas dicas.
Na capa os dizeres “contra o aumento” e no subtítulo uma pergunta capciosa
"Depois dos preços das passagens, a vez da corrupção e da
criminalidade?". Claramente a revista passou a conclamar os seus leitores
para engrossar as manifestações incorporando as pautas conservadoras que são
semanalmente publicadas na revista. Enquanto isso as emissoras de TV propagavam
o bordão “não são só os 20 centavos”.
Com a ampla cobertura da Rede Globo o “povo” (categoria
sociológica controversa) foi para as ruas e para a frente das câmeras. As
manifestações tornaram-se quase Flash
Mobs, mas com um roteiro fixo relembrado a todo instante pela TV. Todos de
branco, caras pintadas de verde-amarelo, hino nacional, cartazes contra a
corrupção e a palavra de ordem: “sem partido!”
A partir de então as imagens televisivas tornaram-se cada vez
mais espetaculares. Manifestantes no teto do Congresso, na Ponte Estaiada em
São Paulo (obra viária milionária que serve apenas de cenário para os programas
da Rede Globo), av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, completamente tomada.
Na quinta-feira, 20 de junho, a cobertura midiática atingiu seu
ápice. A edição do Jornal Nacional teve três horas de duração, exibindo em
tempo real as manifestações de todas as capitais.
Ao longo de toda a cobertura a maioria das imagens eram panorâmicas,
apenas mostrando uma imensa massa. E os comentários sempre genéricos dos
repórteres, os manifestantes pedem mais saúde, mais educação e o fim da
corrupção.
Nessa mesma noite, manifestantes ligados a partidos políticos de
esquerda (os únicos que têm militância de verdade, como nome, rg e cpf) foram
agredidos física e moralmente pelos “novos cara-pintadas” que urravam o mantra:
“sem partido, sem partido”
O que mais me assusta em meio a todas essas manifestações é a
má-fé de alguns e a ingenuidade de outros. Má-fé dos setores conservadores
organizados que cooptaram as manifestações do MPL para levantar bandeiras
retrógradas. E ingenuidade de alguns que acreditam que estão manifestando sua
indignação, mas que em verdade estão sendo utilizados como “figurantes” da nova
novela da Globo.
Sou completamente a favor de protestos acreditando até que
muitas vezes eles precisam ser violentos, mas o protesto tem de ter foco.
Demandas concretas. Escrever no cartaz que é contra a corrupção não diz nada.
Corrupção de quem? Do prefeito de sua cidade, da empreiteira que financiou a
campanha ou do funcionário que leva remédio do posto de saúde para casa?
O povo deve ir às ruas sim! Ocupar os espaços públicos! Não para
ser figurante televisivo. Mas para formar comissões, pressionar diariamente os
gestores públicos. Formar comitês populares. Para essa luta eu estou acordado
há tempos!
Manifestantes mascarados que empunham cartazes exigindo o “fim
da bolsa esmola”, “redução da maioridade penal”, "chega de explorar a
classe média" e que cantam o hino nacional de joelhos em frente a Fiesp
NÃO ME REPRESENTAM!

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